O cortiço, livro escrito por Aluísio Azevedo e publicado em 1890, faz parte do movimento literário que chamamos de Naturalismo. Mas, antes de falarmos sobre a obra – você sabe o que é o movimento naturalista?

O Naturalismo surgiu no final do século XIX na Europa, relacionado diretamente com a obra A origem das espécies, do britânico Charles Darwin, publicado originalmente em 1859. Darwin também é chamado de naturalista, devido à sua teoria da evolução e sua forma de pensar a biologia.

Mas então porque um movimento literário chamado Naturalismo? O Darwinismo influenciou o Naturalismo principalmente na ideia de que os seres humanos são iguais a qualquer outro animal, sem nada de especial, e que apenas os fortes sobrevivem. Esse pensamento moldou este movimento literário.

O Naturalismo tinha como principais características a zoomorfização e o determinismo (em oposição ao Realismo), além da crítica social e escrita objetiva. A zoomorfização na literatura acontece quando o escritor atribui características animais a personagens humanos. Já o determinismo traz a ideia de que os indivíduos de determinada obra são de certa forma determinados por fatores sociais, econômicos e históricos (ou seja, pelo meio e período que vivem).

Ademais, os autores naturalistas eram conhecidos por trabalharem questões consideradas polêmicas como a sexualidade, a pobreza e a raça. O biológico e o instintivo estavam mais presentes do que o racional e psicológico. Para a época, as obras naturalistas foram consideradas imorais, pelo forte teor sexual e animalesco; nos dias atuais, muitos desses livros são tidos como preconceituosos, devido à forma como foram tidos os grupos marginalizados – mulheres, pobres e negros, principalmente.

Entre os principais autores do Naturalismo estão os europeus Émile Zola e Eça de Queiroz; e os brasileiros Raul Pompeia e Aluísio Azevedo. Azevedo é considerado o precursor do Naturalismo brasileiro, aqui, nos ateremos um pouco em sua obra mais conhecida: O Cortiço.

O Cortiço se passa em uma habitação coletiva, o chamado “cortiço”, no Rio de Janeiro, e relata a vida dos moradores simples do local. João Romão pode ser considerado um dos personagens principais da trama, ele é o português dono do cortiço, além de ser proprietário da venda e da pedreira. Romão está buscando enriquecer e com tal objetivo ele passa necessidade, explora seus funcionários e até mesmo comete furtos. Ele também conta com Bertolezza, sua amante e empregada, que trabalha de domingo a domingo, sem descanso. Ao lado do cortiço vive Estela e seu marido Miranda, senhor abastado e comerciante, ao qual João Romão trava uma disputa: quer ser mais rico que seu oponente.

Além de João Romão e Miranda, temos os moradores do cortiço, com uma situação financeira mais complicada, entre eles, destacam-se: Rita Baiana, Jerônimo, Piedade e Firmo. Rita Baiana carrega o estereótipo de sedutora, se envolve com Firmo e com Jerônimo (casado com Piedade); Jerônimo, com ciúmes, assassina Firmo; Piedade, ao saber da traição de Jerônimo, se torna alcoólatra. Destaca-se também o fato que Jerônimo era um português trabalhador, responsável pela pedreira de João Romão, contudo, após seu envolvimento com Rita Baiana, muda seus hábitos e abandona Piedade e sua filha.

O determinismo, característica do movimento literário naturalista está muito presente na obra, vide o fato que a influência do meio (seu envolvimento com Rita Baiana) fez com que Jerônimo fosse de homem trabalhador e ambicioso, que acreditava nos “valores europeus” a um homem “abrasileirado” que gosta de beber, de feijão preto com farinha e de samba.

A história é contada em terceira pessoa, por um narrador onisciente (que sabe de tudo que acontece na trama) e é dividida em 23 capítulos. Muitos consideram que o personagem principal da obra é o próprio cortiço, personificado no decorrer da narrativa.

Professora Jéssica

Jéssica é pedagoga e professora de inglês na Nautae. É mestra em Ensino pela UNESPAR e licenciada em Filosofia pela UEM. Atualmente é doutoranda em Estudos Linguísticos pela UEM e cursa Letras Português/Inglês pela mesma instituição.

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